A lenda de S. Martinho
Era uma vez um menino chamado Martinho. O seu pai era general e treinava os soldados do Imperador...
Um dia, o Imperador ordenou que o pai de Martinho se transferisse para Pavia, em Itália. Uma tarde, já em Pavia, enquanto Martinho cresceu e...
O pai disse-lhe: - És alto e forte. Acho que já podes ser soldado! Nesse mesmo dia, pai e filho foram ao palácio do imperador. Martinho recebeu a espada, uma capa e a ordem para ir lutar para França.
Uma tarde, ia Martinho a caminho da cidade de Amiens, quando rebentou uma grande tempestade. O vento soprava frio e Martinho aconchegou-se melhor dentro da sua capa quentinha... Estava já a chegar às portas da cidade, quando viu, à beira da estrada, um homem a pedir esmola, cheio de frio. Martinho parou imediatamente o cavalo. Procurou algumas moedas no bolso, mas nada encontrou...
Então teve uma ideia: - Vou dar-lhe metade da minha capa de soldado! Sem hesitar, pegou na espada, rasgou a capa em duas partes iguais e entregou uma metade ao homem. E, nesse momento, aconteceu um milagre... Para que nenhum dos homens passasse mais frio, as nuvens desapareceram e o Sol brilhou com toda a força.
É por isso que ainda hoje, quando faz sol em novembro, dizemos que é o Verão de S. Martinho! Martinho era um homem tão bom que se tornou santo. Hoje todos o conhecemos: no seu dia, 11 de Novembro, é costume fazer, uma festa onde se partilham castanhas em sua homenagem: o magusto.
Maria Castanha
O céu já estava todo cinzento e quase nunca aparecia o sol, mas enquanto não chovia os meninos iam brincar para o jardim.
Um jardim muito grande e bonito, com uma grade pintada de verde toda em volta, de modo que não havia perigo de os automóveis entrarem e atropelarem os meninos que corriam e brincavam à vontade, de muitas maneiras: uns andavam nos baloiços e nos escorregas, outros deitavam pão aos patos do lago, outros metiam os pés por entre as folhas secas e faziam-nas estalar - crac, crac - debaixo das botas, outros corriam de braços abertos atrás dos pombos, que se levantavam e fugiam, também de asas abertas.
Era bom ir ao jardim. E mesmo sem haver sol, os meninos sentiam os pés quentinhos e ficavam com as bochechas encarnadas de tanto correr e saltar.
Uma vez apareceu no jardim uma menina diferente: não tinha as bochechas encarnadas, mas uma carinha redonda, castanha, com dois grandes olhos escuros e brilhantes.
- Como te chamas? - perguntaram-lhe.
- Maria. Às vezes chamam-me Maria Castanha.
- Que engraçado, Maria Castanha! Queres brincar?
- Quero.
Foram brincar ao jogo do apanhar.
A Maria Castanha corria mais do que todos.
- Quem me apanha? Ninguém me apanha!
- Ninguém apanha a Maria Castanha!
Ela corria tanto. Corria tanto que nem viu o carrinho do vendedor de castanhas que estava à porta do jardim, e foi de encontro a ele.
Pimba!
O saco das castanhas caiu e espalhou-as todas à reboleta pelo chão.
A Maria Castanha caiu também e ficou sentada no meio das castanhas.
- Ah, minha atrevida! - gritou o vendedor de castanhas todo zangado.
- Foi sem querer - disse a Maria Castanha.
- Foi sem querer - explicaram os outros meninos.
- Eu ajudo a apanhar tudo - disse a Maria Castanha, de joelhos a apanhar as castanhas caídas.
E os outros ajudaram também.
Pronto. Ficarm as castanhas apanhadas num instante.
- Onde estão os teus pais? - perguntou o vendedor de castanhas à Maria Castanha.
- Foram à procura de emprego.
- E tu?
- Vinha à procura de amigos.
- Já encontraste: nós somos teus amigos - disseram os meninos.
- Eu também sou - disse o vendedor de castanhas.
E pôs a mão nos cabelos da Maria Castanha, que eram frisados e fofinhos como a lã dos carneirinhos novos.
Depois, disse:
- Quando os amigos se encontram é costume fazer uma festa. Vamos fazer uma festa de castanhas. Gostam de castanhas?
- Gostamos! Gostamos! - gritaram os meninos.
- Não sei. Nunca comi castanhas, na minha terra não há - disse Maria Castanha.
- Pois vais saber como é bom.
E o vendedor deitou castanhas e sal dentro do assador e pô-lo em cima do lume.
Dali a pouco as castanhas estalavam... Tau! Tau!
- Ai, são tiros? - assustou-se a Maria Castanha, porque vinha de uma terra onde havia guerra.
- Não tenhas medo. São as castanhas a estalar com o calor.
Do assador subiu um fumozinho azul-claro a cheirar bem.
E azuis eram agora as castanhas assadas e muito quentes que o vendedor deu à Maria Castanha e aos seus amigos.
- É bom, é - ria-se a Maria castanha a trincar as castanhas assadas.
- Se me quiseres ajudar podes comer castanhas todos os dias. Sabes fazer cartuchos de papel?
A Maria Castanha não sabia, mas aprendeu.
É ela quem enrola o papel de jornal para fazer cartuchinhos onde o vendedor mete as castanhas que vende aos fregueses à porta do jardim.
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