23/11/2011

0

PALAVRAS COR-DE-ROSA E PALAVRAS CINZENTAS (Final)

... — Vou, a título de experiência — resmungou o Sol. — Mas atira primeiro para a Terra estas palavras cor-de-rosa. Assim, o meu regresso será mais agradável.
O Sol deu ao menino um conjunto de palavras cor-de-rosa: 
Por favor;
É simpático da tua parte; 
Muito obrigado; 
Gosto muito de ti, Amor da minha vida;
Se não se importa, ....
O rapazinho meteu-as nos bolsos, na boca, no boné, nas meias, em todo o lado. As que ele conseguisse levar.
Regressou à Terra e distribuiu-as ao acaso.
De repente, nos engarrafamentos, as pessoas começaram a desdobrar os papelinhos cor-de-rosa: 
Faz favor de passar; 
Que tempo tão bonito, não acha?;
Pode ir à minha frente, não tenho pressa nenhuma…
Nos recreios, começaram a ouvir-se novamente risos simpáticos e palavras como: 
És o meu melhor amigo; 
Claro que podes entrar no jogo…
Em casa, as crianças voltaram a usar palavras cor-de-rosa: 
Obrigada, mamã; 
Por favor; 
Desculpa, não fiz de propósito…
Nos aniversários, cantava-se alegremente e, nas festas da passagem do ano, formulava-se votos de felicidade e de saúde.
O Sol voltou a brilhar e a deitar-se todas as noites na sua nuvem cor-de-rosa. E, juro-te, os vendedores de palavras cor-de-rosa começaram a fazer fortuna! Abriram-se mesmo outras lojas especializadas em sorrisos, em suspiros de satisfação, em delicadeza, em cortesia, em civismo… Foi como mel no coração.
Quanto às palavras cinzentas, decidiram, diante de tanta felicidade, desarvorar com quantas patas cinzentas e peludas tinham. E, quando alguma se lembrava de vir meter o nariz, garanto-vos que não ficava por muito tempo.

Autora: Sophie Carquain

0 comentários: